domingo, 30 de dezembro de 2007

UMA ORAÇÃO PARA COMEÇAR O ANO


Pai, meu amado paizinho eterno,


Mais um ano acaba sobre minha existência no chão desta terra. E aqui estou para agradecer-Te e para pedir graça, misericórdia e proteção no resto da jornada.


Pai, os dias são maus, e eu não sou bom. Por isto, ó Pai, fortalece meu coração no Teu amor, para que a frieza dos tempos não gele o meu ser, e nem tire de mim o bom ânimo para fazer o que é bom.


Senhor da Terra e dos Céus, nós, humanos, feitos pelo Teu amor, nos afastamos de Ti, a fonte de Águas Vivas, e para nós mesmos cavamos cisternas rotas, das quais bebemos sem saber que nela há a água envenenada pela religião dos homens e por suas morais farisaicas e sem amor.


Cordeiro eterno, a Terra geme, e os dias de Tua ira se avizinham. Tem misericórdia da humanidade, e, por Tua graça eterna, dá-nos a chance de mais uma vez bradar a toda Terra o Evangelho Eterno, para que o mundo possa, quem sabe, pela primeira vez nesta geração, receber o testemunho do Evangelho de Jesus, e não o da Cristandade.


Ó Deus da Vida! Nós estamos acabando com tudo o que criaste. Perdoa-nos e abre nossos olhos, para que o mal que nós mesmos fabricamos não nos apanhe como um laço. Por Tua misericórdia, paizinho, dá mais tempo ao mundo para que se arrependa da destruição de Tuas criaturas.


Pai meu e Deus de minha vida, peço-Te pelos meus amados, pelos que gerei e pelos que me afeiçoei pela gestação de amor no útero de minha alma. Guarda-os sob Tuas asas e dá a todos eles o entendimento de Tua Graça.


Senhor, a Terra foi desviada de seu eixo, os pólos ficaram mais redondos, as geleiras estão se desfazendo, um grande iceberg maior que o estado de Santa Catarina viaja pelos mares ameaçando mexer com todo o sistema de nosso clima. Pai, eu sei que foram as nossas maquinas movidas a petróleo que fizeram isto; e sei que é o nosso modo de vida o que está nos matando; pois, como ensinaste, nossa vida é morte. Senhor, adia os dias da calamidade.


Peço pelos meus filhos e netos, rogo pelas futuras gerações, os filhos do apocalipse. Sim, peço-Te que ponhas sobre eles a marca do Cordeiro, para que não sejam confundidos nos tempos futuros, quando a marca que os homens carregarão será a do domínio "daquele" que não se põe sobre o Teu senhorio.


Pai, ergue da passividade milhares de Teus filhos, os quais, pelo cansaço, desistiram do bem, ou não crêem mais que ele possa ter seu lugar neste mundo de perversidades e egoísmo. Sim, ordena; e Teus filhos se porão de pé; à semelhança dos ossos que se tornaram um grande exército, conforme Teu profeta Ezequiel.


Oro por aqueles que ensinam aqueles que desejam crer em Ti. Ó Pai, abre-lhes os olhos, para que não mais falsifiquem a Tua Palavra em razão de ganhos e poderes. Salva-os das ambições e das ganâncias da morte e do inferno. Não deixa que com a boca cheia de Teu nome, enganada ou deliberadamente, usem Teu nome como capital de manipulação e controle de almas. Dá a cada um deles ainda a chance de se converterem à sinceridade do Evangelho eterno e simples de Jesus.


Faz cair sobre a Terra um sonho. Abre as comportas do Inconsciente Coletivo e faz toda gente sonhar, conforme a promessa feita mediante Joel. Sim, derrama Teu Espírito sobre toda carne, nesses dias de fogo, sangue, enxofre, fumaça e caos. Sim, antes que o sol escureça e as noites se pintem de sangue decorando até a lua com o encarnado das desgraças, mostra-nos o Teu favor.


Sim, Pai! Ouso pedir que dês um sonho a toda humanidade. Que teus anjos visitem os humanos, todos nós, com sonhos, conforme fizeste com os Josés, o do Egito e o pai de Jesus. Sim, um sonho, como aquele que parou a maldade de Nabucodonozor.


Pai, sem que Teu Espírito se derrame e dê a todos os homens espírito de arrependimento, nossos dias estão contados. Por Tua Graça, alonga esses dias de esperança, para que muitos creiam, e para que nossos filhos ainda tenham ar no ar, para respirar; água nos rios para beber; frutas não contaminadas nos campos para comer; e esperança no peito para viver.


Peço que Tu abençoes a todo aquele que pensar mais na vida do que nos seus próprios planos. Dá que se cumpra a Palavra de Tua promessa, de que enquanto cuidarmos do próximo, Tu cuidarás de nós.


Derruba de seus tronos os tiranos e dá-nos ainda um tempo de refrigério!


E que o espírito de engano e mentira que está na boca dos falsos profetas e falsos apóstolos, seja envergonhado, e que suas falsas promessas não se tornem à droga que tira a sensibilidade de Teu povo para o Evangelho, conforme hoje se vê.


Levanta meninos e crianças; e planta em suas boquinhas as Tuas simples e eternas palavras!


Que os tímidos tomem coragem. Que os cansados se animem e se ergam. Que os que ainda amam, não se cansem de amar. E que os que aguardam o bem não sejam comidos pelo cinismo.


Que se faça ouvir por toda a Terra o grito profético de Teus mensageiros!


Abre novas portas à Tua palavra, e, com Teu poder, concede-nos a unção que acompanhará o testemunho do Evangelho com sinais, prodígios e maravilhas da verdade, e não do engano, conforme hoje se vê.


Peço que tenhas misericórdia de minha vida e que me livres do mal, pois, são muitos os males que tentam me acometer, assim como são muitos os que hoje desejam minha morte, minha desgraça e meu silêncio. Não deixa que se satisfaçam vendo-me abatido por qualquer coisa. Tu és minha força e meu amor. Cuida de minha alma, pois em Ti eu confio.


Nele, em Quem todas as orações são respondidas,


Caio, Teu filho, e também em favor de muitos irmãos!

domingo, 16 de dezembro de 2007

METRO-ESPIRITUALIDADE



Hoje acordei taciturno.

Por seu turno, isso me fez acordar.

Acordar pra realidade de plástico, ou melhor, de silicone, que nossa sociedade insiste em viver.

Quase cantei Taiguara:

“eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia...um lugar que me dê trégua ou me sorria...uma gente que não viva só pra si...”

Fico triste com a mesquinhez de espírito. Com a pobreza no trato, com a falta de auto-percepção das pessoas.

Se cada um se julgasse pelo tribunal de sua própria consciência, no mínimo os acórdãos sempre seriam “carência de” humildade”, “obrigação de fazer” mais, etc. Mas...

Se enxergássemos um palmo à frente do próprio nariz, veríamos tanto! Todo um universo se descortinaria, mostrando algo a mais que nosso umbigo.

Mas, não...há sempre uma obstrução de pauta em relação aos assuntos que confrontam nossos defeitos. Sempre há um adiamento sine die das demandas cujas partes somos apenas nós mesmos.

Ninguém tem urgência em se modificar. Ninguém tem pressa em amadurecer. Ou mesmo interesse.

É uma pena que certas verdades tenham de demorar tanto para serem reconhecidas. Não há rito sumário pra desboçalização.

Cada qual com sua percepção obtusa do universo, “procurando repartir seu mundo errado”, abstendo-se de tentar olhar as coisas sob a perspectiva da eternidade.

Todo mundo com seu desfile de corpos, de posses, de cargos e de máscaras. Um baile onde estou sem ser convidado. E não pedi pra vir.

Então, será que o que nos cabe é apenas engolir nosso grito de insatisfação, aceitar nossa inexpressividade, expressar nossa resmunga e resignar-nos na nossa irresignação?

Acredito que não... Pelo menos hoje estou tentando semear.

A TV que exibe a alma das pessoas está em preto e branco. Não temos mais utopias saudáveis, ou fantasias lúdicas.

Somos uma massa disforme caminhando e cantando e seguindo a canção, miseravelmente feitos iguais pela idiotice de nossa superficialidade e invariavelmente sem braços dados. Perdemos a esperança. Perdemos a fé. Perdemos o afeto. Perdemos a nós mesmos, na plenitude da singularidade que pode nos tornar mais que apenas um só.

Nascemos pra testemunhar de Deus. Sim, testemunhar para nós mesmos e para outros.

Mas isso passa tão longe da nossa realidade... Parece...conversa-pra-boi-dormir!

Hoje eu consigo discernir a figura do homem "metro-espiritual". Sim, nos padrões de classificação de comportamento que a mídia atual nos ensina, eis que surge um novo modelo de espiritualidade. É a espiritualidade-vaidade, modelo século 2.0 / 2.1.

Esse tipo de atitude é encontrado na pessoa que tem na espiritualidade apenas mais um hobby.

A prática da espiritualidade serve apenas para alcançar o equilíbrio da alma e do corpo.

É como se Deus fosse uma extensão da academia, ou da Yoga, ou da massagem...

O homem de hoje tenta ser espiritual para si mesmo. É a religião do deus-interior. Uma espécie de budismo, só que sem a resignação.

Procura-se a absolvição de si mesmo, a libertação de todas as culpas, não através da redenção da Cruz, mas através da soltura das amarras dos próprios limites.

A meta maior é viver livre das culpas, dos “tijolos inúteis que carregamos”, como diria Al Paccino.

Sabe...um pouco de culpa pode fazer muito bem, sim senhor. Significa que ainda temos consciência. A doença está em como se trata com a ela.

A culpa deve apontar o erro e levar ao arrependimento/mudança de atitude. Tão-somente isso.

Mas não. Consciência não está na moda.

Aliás...a moda é o que há! Triste constatação que tive no Natal passado, ao ler num banner do Píer 21 que “fraternidade está na moda...doe “não-sei-o-quê”.

Hoje a piedade se confunde com o politicamente correto,

A misericórdia só existe como um complemento das virtudes que se tenta obter,

O amor ao próximo desapareceu. O próximo desapareceu!

A verdadeira compaixão, com paixão, sumiu.

Os andrajosos passam por nosso caminho e nos abstemos de ajudá-los, sob o pretexto de que "nenhum bem efetivo pode advir de uma ajuda conjuntural", parafraseando Abraham Lincoln da pior maneira possível.

Os mendigos são problema da estrutura, ora bolas!

Os pedintes são um incômodo que preferimos não ver. Que fingimos não ter.

Mas a metro-espiritualidade, a espiritualidade do conveniente está lá...

Como sepulcros caiados, freqüentamos nossa igrejas, nossas terapias de grupo e nossos analistas.

Mas o objetivo é a auto-absolvição. É a fixação na “descastração” dos conteúdos inconscientes. É Freud na pior representação.

É a psicanálise a serviço do inferno.

A desgraça existe, mas sempre está longe demais para ser sentida! Afinal, o 11 de setembro foi a uns nove mil quilômetros daqui.

O único bem que se quer fazer é aquele que fica bem na foto ou aquele que nos permite viver sempre “de bem” conosco mesmos, e assim nos estabelecermos sadicamente por sobre nossos pares.

A “cura” é tornar-se um rolo-compressor tão cheio de ética quanto de vazio. É o egoísmo em forma de auto-ajuda.

Até que o vento frio da desdita nos desminta.

Até que a noite escura desça como um véu sobre nosso céu,

Até que o diabo mostre a cara, a desgraça bata à porta.

E a doença nos coloque num cativeiro disciplinar.

Até que as finanças entrem em colapso e um abismo se abra sob nossos pés.

Até que uma bolhinha de ar entre despretensiosamente nos capilares de nosso cérebro.

Até que um ente querido faça a passagem

E um nó se ate tão forte em nossa mente que as forças se dissipem, e o simples levantar da cama seja o maior dos sacrifícios!

Nesse dia, viver "um dia após o outro" finalmente encontra seu significado em nossa existência.

Nessa hora “o valor das pequenas coisas” deixará de ser um chavão piegas Nesse minuto se reconhecerá a dádiva do “sol quente sobre nosso rosto.”

Nesse tempo, a metro-espiritualidade não nos bastará.

Nesse segundo, quando nossa mente nos engana, quando a psique nos prega peças, quando a depressão procura nos engolir...

Nesse momento, é a hora do grito de socorro, é a hora do absurdo, é a hora do improvável, é a hora da ajuda-sem-nome.

É a hora do Nome sobre todo nome.

É a hora de Deus.

Sim...aí nos lembramos dEle.

E se não formos mais burros que já temos sido, podemos perceber Sua mão nos apascentando, através do caminho, dos descaminhos, das pessoas, da vida.

Já dizia o sábio: "lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade".

Então, que um eco dessa sabedoria no ocaso de Salomão brinde nossos dias jovens...

Que Deus nos encurrale para que ele mesmo possa operar o bem em nós, no mais profundo sentido da palavra “bem”.

Que meu grito de hoje sirva para incomodar...

Que ateie fogo, muito mais que apague incêndios;

Enfim, que esse texto sirva, preventivamente, para sua reflexão.

Na esperança e na fé de ter sido compreendido ou, quem sabe, ter ajudado...apenas mais um que seja.

André Barcellos.
15/02/2007