sábado, 18 de setembro de 2010

Até quando?


Aquela cena terrível ainda me vem à mente de repente.

Até quando?

Dia 15 de setembro de 2010, quarta-feira, manhã, Feira dos Importados em Brasília. Estava em férias em Paracatu/MG e ao retornar pra casa, dei carona a minha cunhada até Brasília. Lá chegando, ela nos convenceu a ir a essa feira comprar roupas, porque é tudo mais em conta. Chegando àquela rua estreita da feira, vimos um corpo no chão, naquele asfalto quente, coberto com um saco plástico branco e com os pés descobertos. Em volta, cheio de sangue. Mais à frente um caminhão baú parado e vários policiais conversando na sombra que o baú proporcionava. O perímetro do acidente estava cercado com fita plástica amarela e preta. Muita gente ao redor daquele cerco olhando aquele corpo sem vida, miolos, ali, estendido naquele chão quente. Meu Deus! Que cena horrível!

Perguntei a um jovem visivelmente perplexo com o que havia acontecido, e ele disse que viu o acidente. O caminhão estava parado na faixa esquerda da rua com o motor funcionando, a mulher parou e se encostou ao lado esquerdo do para-choque na frente do caminhão, meio encurvada pra frente olhando após do caminhão, certamente pra ver se não vinha nenhum carro pra que pudesse acabar de atravessar a rua. Nesse momento o motorista do caminhão o acelerou e saiu empurrando a mulher pra debaixo dele e passando com a roda por cima da sua cabeça. O motorista só parou quando ouviu as pessoas gritando pra ele parar.

Escutando outras pessoas por ali, fiquei sabendo que a mulher tinha 32 anos e tinha acabado de sair da loja da cunhada, que a cunhada viu tudo e desmaiou, que o motorista tinha ficado muito perturbado quando viu a mulher no chão sem a cabeça, que o motorista disse que não viu ninguém na frente do caminhão, que a mulher era baixa e a cabine do caminhão alta e isso foi o motivo do motorista não ter visto a mulher etc.

Aquela cena daquela mulher estendida ali na rua, as pessoas olhando, sem ninguém poder fazer nada, sem eu poder fazer nada. Sensação de impotência. Eu pensava comigo mesmo, o que posso fazer? Confesso que passou pela minha cabeça..., e se orasse a Deus em nome de Jesus para que ressuscitasse aquela mulher?! Se Deus atendesse minha oração e realizasse ali naquele momento o milagre da vida?! Quantas pessoas ali seriam alcançadas pelo Evangelho vendo o poder de Deus se manifestando naquele corpinho ali, recompondo primeiro a sua cabeça e em seguida se levantando dando glórias ao Pai?!

Fico pensando, que tipo de fé é essa que digo possuir? Jesus disse que se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda, poderíamos mover montanha. Mas e se eu orasse ali e não acontecesse nada? Morreria também eu de vergonha? As pessoas zombariam de mim? Poderiam me hostilizar? O que eu poderia falar àquelas pessoas se Deus não quisesse levantar aquela mulher morta? Cadê a minha ousadia pra pregar as Boas Novas? Cadê a minha intrepidez pra aproveitar a oportunidade? Cadê a minha confiança em Jesus? O que aconteceu com aquela paz que saí do encontro nacional do caminho da graça? Será que entendi tudo mesmo? Por que eu já maduro, pelo menos na idade, impressionar tanto como a um menino?

Depois, fico arrazoando comigo mesmo, que estou sendo extremista demais, que Jesus não me deu o dom de ressuscitar, que Jesus sabe que a nossa fé é mesmo muito pequena, muitas vezes menor que o grão de mostarda, tanto que Ele mesmo anunciou isso, que Ele não vai me cobrar por essa fraqueza, que sou mesmo fraco e Ele sabe disso melhor do que eu mesmo, que fatalidades acontecem o tempo todo, e foi o que aconteceu com aquela mulher, que poderia ter acontecido comigo mesmo ou qualquer familiar meu, que não sou nada e que por isso mesmo preciso tanto da misericórdia e da graça do Senhor Jesus, que... que... que...

...que fim de férias!

David

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