
Há alguns anos plantei grama no quintal de casa. Ficou tudo verdinho. Como eu queria mesmo. Porém, no canto perto do muro cresceu também um ninho de cupim. Como cresceu rápido! Em pouco tempo já tinha seus 50 cm de altura. Nosso jardineiro de plantão resolveu acabar com o cupim e deu nele com a enxada. Nosso jardineiro é um senhor com mais de 80 anos de idade, mas se não contar, ninguém diz que tem tudo isso. Dá show em muitos rapazolas desavisados por aí. Destruiu tudo. Pensei! Mas a coisa é teimosa, e logo foi refazendo o ninho.
Um dia recebi alguns parentes da minha mulher em casa, e sua irmã mais velha, também é teimosa, obstinada mesmo quando quer alguma coisa, resolveu acabar com o cupinzeiro. Levou um dia inteiro, mas tirou o bicho inteiro. Igual quando ele tira bicho-de-pé da gurizada. No lugar do cupim ficou um buracão. Fiquei com receio dos nojentinhos voltarem e taquei óleo diesel queimado no buraco e mandei terra em cima. Não sei se foi exatamente pelo óleo queimado, mas ali a grama nunca mais cresceu. De nada adiantou jogar adubo, esterco de vaca, mexer e remexer a terra. A grama ia até na beirinha do terrão, mas não passava dali. E assim foi ficando, pois na verdade, fomos acostumando com a “paisagem” e depois de um tempo, nem incomodava mais mesmo.
Mas o tempo passou, e fiquei velho de repente. Com 42 virei avó de dois gurizinhos lindos e marotos. Eles ficam sob os cuidados da avó para que suas mães possam trabalhar tranquilamente. E logo que começaram a andar descobriram a “santa” terrinha. A partir daí foi só reclamação da patroa-avó: “mais que coisa... acabei de arrumar a casa e esses “mininus” sujaram tudo com essa porcaria de terra... ô meu Deus quando é que esses homens dessa casa vão dar jeito nisso?” (ela se referia a mim, meus genros e, acho, que a meu filho).
Depois de mais ou menos um ano ouvindo essa “ladainha”... Ops! Quer dizer, queixa justa... Resolvi acabar com aquele aborrecimento de vez. Aborrecimento pra minha querida esposinha (e pra mim). Resolvi cimentar aquele pedaço de quintal já que não há nada que faça crescer grama boa em cima.
Liguei pra uma loja de materiais de construção e pedi três latas de areia grossa, uma de brita número zero e um saco de cimento. Isso numa quinta-feira porque no sábado meu amigo pedreiro ia ajeitar tudo de manhã. O vendedor disse que se tivesse uma carga pra redondeza onde ficava minha casa, ele mandaria o material. Achei estranha a resposta, mas resolvi aguardar. Na sexta-feira por volta das duas horas da tarde, liguei pra loja e perguntei quando iam levar o material. O vendedor disse que não tinha mandado porque não apareceu nenhuma carga maior pra aquelas bandas (aquelas bandas é onde ficava a minha casa). Aí pensei, “isso quer dizer que não vão levar o material. Agradeci, disse que compreendia, e cancelei o pedido.
Liguei pra outra loja mais próxima de casa e a vendedora me disse: “senhor, se tivesse me ligado mais cedo, teria espaço na carga que despachei pro setor da sua casa”. Perguntei: “então você não pode me vender a mercadoria?” Respondeu: “vendo sim, claro que vendo, só não posso entregar!”
Bem, diante disso, só me restou pôr meu carro véio em ação. Eu mesmo transportei o material pra casa. Não podia deixar o amigo pedreiro na mão. Ele tinha adiado outro serviço só pra me atender naquele sábado. Pedi pra ensacarem o material e carreguei tudo no porta-malas. Pelo menos isso eles fazem!
Fiquei pensando... Essa “filosofia” das casas de materiais de construção, no mínimo é muito burra... Visão curta de negócio! Esses empresários estão vendo só o presente, só o lucro do momento. Não entregam mercadoria de baixo valor ou de pouco volume porque não vale o lucro de ter que deslocar um transporte pra entrega. Não pensam que atender a uma necessidade pequena do cliente hoje, pode lhes retornar um grande negócio no futuro. Sim, porque amanhã, eu posso resolver fazer uma grande reforma na minha casa (e tá precisando mesmo!), posso construir outra casa, meus três filhos podem construir suas casas, posso indicar para meus amigos, para os mais de trezentos colegas de trabalho, posso até fazer propaganda de graça para aquela loja que sei que é comprometida com a satisfação do cliente, também, ou seja, que não visa só lucro etc...
Não sei se acontece contigo, mas dependendo da circunstância, às vezes estou disposto a pagar até mais caro, quando sei que serei bem atendido, respeitado como consumidor e cidadão... Princípio de qualidade cada vez mais raro no comércio em geral, apesar dos ISOs, PQFs, PQTs etc.
Meu sobrinho trabalha num supermercado de bairro aqui na minha cidade, e ele conta que o seu patrão manda entregar até um sabonete, e ainda prenuncia: “agora é só um sabonete, amanhã será um ou mais carrinhos de compras lotados”. Entendeu? Com essa política ele está fidelizando o seu cliente, porque seu cliente sabe que pode contar com ele em suas necessidades “extraordinárias”.
Reflita e veja se também não se aplica: “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.” Lucas 16. 10
Agora está tudo bem! Tudo cimentado, sem terra pra sujar os moleques, sem moleques sujos pra sujar a casa limpa da vó, sem vó brava com moleques e com o avô... Agora é só môzinho pra cá, môzinho pra cá... Tá vendo?! Só o amor constrói!
por David Palazzo.
RV, 11/2007.
RV, 11/2007.
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