terça-feira, 10 de junho de 2008

ESBOÇO DE UMA VIDA - parte 6

Retornamos a Pouso Alto, e neste retorno minha avó Isollina Goulart, estava conosco.
Resolveu-se fazer uma pintura e reforma nas acomodações reservadas para uso do obreiro e sua família. O que nos levou de volta à Fazenda Monjolinho. Em Araguari, meu avô liquidou os negócios, vendeu a fazenda, o gado e aplicou o capital numa Casa Bancária, na transação da fazenda recebeu uma boa casa residencial bem alugada. Era casa adequada ao comércio, o que lhe permitiu de imediato um inquilino que lhe pagou um aluguel razoável, para aquele tempo.
Zéca Coelho, apenas não vendeu um cavalo marchador, um baio, com que presenteara a esposa. Seguiram, os dois, por estada de ferro, até Pires do Rio, de onde a cavalo seguiu para Pouso Alto. Nunca me esquecerei daquela tarde, quando meu avô, todo empoeirado, chegou a Fazenda Monjolinho, do irmão José Alves Ferreira, montando o baio de minha avó. Era tempo, ainda, da moagem de cana.
Poucos dias após a chegada do meu avô, retornamos à cidade, pois meu avô alugou uma casa grande, que nos acolheu a todos comodamente.
Em Pouso Alto comecei a estudar. Já fora alfabetizado por minha mãe. Passei pelo grupo escolar da cidade, dirigido por uma diretora carola. Não demorou muito, depois de uma violenta agressão praticada contra mim, levei uma canivetada, a diretora simplesmente pediu a meu pai que me tirasse da escola. Daí, fui estudar com D. Nházica, uma professora particular, de poucos recursos, membro da Igreja, e que ainda usava a palmatória. Depois, como duas irmãs abriram uma escolinha, na casa da mãe delas, passei um período sob a tutela delas. O que foi muito bom. Ambas evangélicas, assim como toda a família, fruto do trabalho do meu pai.
Ao final do ano de 1935, o Rev. David, avaliando os resultados do trabalho realizado, por Marcílio e Gersonita, aconselhou-os a fazerem o curso de evangelista, no Instituto Bíblico de Patrocínio, MG. A Missão providenciou e subsidiou tudo. Assim, no começo de 1936, mudávamos todos nós para Patrocínio. Desta vez o cavalo baio de minha avó, não nos acompanhou. Foi necessário vende-lo. Até o meu jumentinho, presente do meu avô, foi vendido.
Os anos de Patrocínio passaram rápidos, mas felizes e abençoados. Matriculou-me na Escola Erasmo Braga, da Igreja. Aí, sim, tive professores qualificados e competentes, autênticas, servas do Senhor. Ali fiz, oficialmente, porque a escola era reconhecida, os 1º e 2º anos primários. Preciosas amizades se desenvolveram nesse período. Colegas da escola e companheiros da Escola Dominical. Um dos bons colegas, e companheiro de infância, foi o Joãozinho Lane, filho do Dr. Eduardo e D. Mary. Jogávamos bolinha de gude, peão, fazíamos nossas artes juvenis, e ele me ensinou a andar de bicicleta, ele e o irmão mais velho, Eduardo, estudante em Lavras.
Terminando o curso no IB, meu pai foi solicitado a administrar a construção de acréscimo a um dos prédios, bem como da reforma do telhado das instalações centrais. De novo a velha profissão de Mestre Carapina, foi útil, mas ficamos retidos em Patrocínio, durante todo o primeiro semestre de 1938, porque o tempo chuvoso atrapalhou a marcha das obras.
Entra em cena, novamente, o nosso Rev. David, nosso amigo do coração. Marcílio e Ninita, agora, estavam sendo convocados, para colaborarem com a Igreja de Araguari e seu campo. Fomos residir com os meus avôs, na residência deles, até que a Igreja adquirisse uma nova casa pastoral, para onde os missionários se mudaram, e nós fomos para a velha casa pastoral, muito grande, confortável, acolhedora e com o quintal enorme, com muitas árvores frutíferas. Que saudade daquela casa da rua Bueno Brandão.
Fui matriculado numa escola particular, porque no grupo escolar, sendo já meados de 1938, não havia como me receberem.
A Professora Estherzinha Goulart, prima de Gersonita, gozava de excelente conceito na escola, apesar desta ter uma forte orientação católica. O certo é que a minha base adquirida permitiu-me no período de segundo semestre de 1938 ao fim de 1939, fazer o terceiro ano, o quarto ano e o admissão. Com resultados mais que satisfatórios, com a observação: “plenamente aprovado”.
Concluindo o primário, feito o admissão ao ginásio, não houve condições para ingressar no ginásio. Em Araguari, os padres absorveram o sistema, logo só evangélicos com disponibilidade econômica, eram recebidos no Regina Pacis. E, como o Rev. David estava sendo transferido para a Igreja de Uberlândia, meus pais passaram à discrição de Missão, que os encaminhou para Estrela do Sul, localidade onde meu pai Milburges e minha madrasta e meus irmãos, meus avós maternos Vicente e Maria Augusta, minhas tias, tios e mais familiares do clã espanhol, não evangélicos, residiam. Foram dias alegres e felizes, mas curtos, porque um dos obreiros da Missão, evangelista em Ipameri, GO., não estava desfrutando de saúde, em virtude do clima lhe ser insalubre. Resultado... Lá fomos nós em julho de 1941, para Ipameri. O período de Estrela do Sul foi ameno, feliz e próspero para a Igreja, e nós, cercados pelo carinho e solicitude dos familiares, deixamos Marcílio e Gersonita incomodados com um sentimento de que esta atual transferência, não era muito justa. Entretanto, obedientemente, entregou-se nas mãos do Deus Eterno, e foram para Ipameri, GO.
De nada adiantou a permuta, pois o evangelista não se aclimatou a Estrela do Sul e não pôde permanecer ali. No momento, meus pais pensaram que tinha sido inútil a nossa mudança.
Já mencionei que após o admissão em Araguari, não tive como continuar, porque os evangélicos pobres eram discriminados pelos Padres, proprietários do Regina Pacis.
Pois bem, em Ipameri, nossa irmã D. Catharina Daher, professora do ginásio municipal, aconselhou a meu pai, matricular-me no ginásio, para aproveitar o semestre, no admissão, porque o curriculum tinha alguma diferença do curriculum de Minas Gerais. Foi uma decisão acertada e no começo de 1942, lá estava eu, finalmente, cursando a primeira série ginasial.

Um comentário:

leh disse...

quando a gente está fazendo tudo de acordo com o q DEUS quer, faz até além daquilo q se é combinado e faz bem feito e feliz ... q bençao!!