A chegada a Pouso Alto foi inesquecível. Os irmãos da pequena comunidade Presbiteriana nos aguardavam carinhosamente hospitaleiros. A mudança foi descarregada e acomodada numa das dependências do templo, cuja área residencial ainda estava ocupada pela família do antigo obreiro.
Como não havia uma residência urbana, fomos, por cerca de três meses, acolhidos na fazenda do Sr. José Alves Ferreira e D. Benedita Alves de Souza, cerca de três quilômetros da cidade. Para quem saíra da zona rural, em Araguari, nos foi gratificante aquele tempo na Fazenda Monjolinho.
“Tu serás uma bênção”, disse o Deus Eterno a Abraão.
Meus pais, na humildade deles, foram ricamente abençoados no relacionamento com os irmãos, os interessados, e moradores da cidade. O trabalho cresceu em número e na qualidade da vida cristã, e muitos simpatizantes acabaram por se decidirem pelo Evangelho. O Salão de cultos precisou ser aumentado mais que o dobro. O ofício antigo, de carpinteiro, foi de grande valia, porque meu pai arregaçou as mangas, pegou no serrote e no martelo, e o madeiramento ficou pronto e muito bem feito, o tempo não tirara o extra de Marcílio, o carpinteiro. O crescimento do trabalho incrementou-se de tal maneira que os irmãos, inclusive meu pai, se arrependeram de não terem feito um aumento maior. “A Igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número.” (Atos 9:31). “A Igreja tinha paz”. Alguns incidentes, que não vem ao caso aqui relatar, haviam abalado um tanto, a comunhão entre os irmãos. Todavia, a postura equilibrada, saudável e pacificadora, dos novos obreiros, lhes garantiu o respeito de uns e de outros. O antigo obreiro se envolvera com a política da terra, que naqueles dias, era violenta. Tempos da ditadura Vargas, e em Goiás a disputa pela preeminência política entre as forças políticas da época. A beligerância entre elas chegava às raias do absurdo. Perseguições, emboscadas e assassinatos. O prefeito oposicionista ao Governo da época, um bom e humanitário médico, Dr. Manuelito, foi vítima por duas vezes. Uma delas, durante nossa permanência na cidade. Meu pai foi procurado pelas lideranças, de um lado e do outro, a fim de que ele aceitasse a Prefeitura, pois segundo eles, meu pai tinha todas as qualidades necessárias e indispensáveis, para promover a paz e a concórdia entre as lideranças políticas. “Bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.
A Missão Oeste do Brasil, que liderava a obra evangélica dos presbiterianos, no Brasil Central, e coordenadora do Instituto Bíblico de Patrocínio, anualmente, realizava em Patrocínio uma convenção, visando adequar as lideranças leigas, da região eclesiástica, às necessidades dos trabalhos eclesiais, como um todo, especialmente com o desenvolvimento pela Escola Dominical.
O que tem essa programática da Missão, com o esboço de minha vida?
Meus pais convidaram o irmão José Alves Pereira e a seu filho João Alves de Souza, a irem com eles para Patrocínio para participarem da Convenção, mas antes, a passarem em Araguari para visitarem os velhos Zéca Coelho e Isolina Goulart.
Já mencionei que vivíamos no tempo da ditadura Vargas, tempo de abusos inomináveis por parte das autoridades policiais. Os delegados, militares, muitos deles não passavam de “jagunços” (pistoleiros), uniformizados a serviço dos “chefetes políticos”, que por qualquer motivo, os mais comuns e não planejados, prendiam, submetiam a humilhações e espoliações. O carvoeiro do meu avô, entregando lenha na cidade, por infelicidade esbarrou no carro do prefeito, sem, contudo, causar-lhe nenhum arranhão. O carvoeiro, apelidado Neném, verificando não ter danificado o carro, e sem saber que era o carro do prefeito, (o médico que atendeu minha mãe e me trouxe a luz), retornou a fazenda. Mas, ali não chegou porque alguém havia comunicado à polícia que o alcançou antes de sair da cidade. Prenderam-no e abandonarão o carroção e os bois a deriva. Até que um morador daquele local, amigo do meu avô, conduziu o carroção até a fazenda. Alguns minutos após tudo isso ter acontecido, o delegado, Tenente Leôncio, acompanhado de dois soldados, chegaram e foram invadindo a residência. Teve aí, o início a sessão dos horrores. Meu avô teve que se vestir convenientemente, enquanto isso, brutalmente procuravam por dinheiro e jóias, rasgaram colchões, seqüestraram uma espingarda de pequeno calibre, e levaram meu avô e o trancafiaram na cadeia, depois de o acariciarem com sopapos e borrachadas. E ele, coitado, sem saber de nada. Enquanto isso o genro que deixara os irmãos de Pouso Alto na fazenda do avô, estava na cidade e ignorava o que estava acontecendo.
Na fazenda, um quadro de desolação, minha avó e mãe entraram numa crise nervosa profunda. Nossos irmãos visitantes estavam profundamente chocados e constrangidos com tudo aquilo. Felizmente, meu pai chegou da cidade, ele estava a cavalo. Tomando conhecimento das coisas, incontinente, a galope, retornou a cidade, indo diretamente ao Prefeito, que não autorizara aquela incursão e nem tomara conhecimento do ocorrido com o seu carro. De imediato, escreveu uma ordem de soltura para que meu avô fosse imediatamente liberado. Vovô foi solto, mas a velha espingarda não foi devolvida, nem queriam devolver o seu relógio de bolso, os seus óculos de aros de ouro, e vinte e cinco mil réis achados no bolso do meu avô. Os objetos acabaram sendo devolvido, graças à intervenção de meu tio Weiller Galante (o Nhônhô), irmão de minha mãe Camélia, e amigo do prefeito. Menos os vinte e cinco réis, valorizados naquele tempo.
A partir desses fatos dolorosos, meu avô, mineiro a antiga, só pensava em vender a fazenda e acompanhar o genro e a filha, mudando-se para Pouso Alto. Meu pai e os irmãos do Pouso Alto seguiram para Patrocínio e participaram da Convenção. (Participavam do evento muitos conferencistas de fora, missionários e pastores nacionais, líderes e educadores). Enquanto isso, minha mãe, avó e uma irmã de criação de minha mãe, a dedicada Tia Galdina, preparavam as coisas que seriam levadas na mudança. Muita coisa ficou para trás. Vovô encontrara logo um comprador que ofereceu um preço abaixo do mercado, mas o velho Zéca não queria permanecer por mais tempo em Araguari, depois de tudo o que sofrera.
Como não havia uma residência urbana, fomos, por cerca de três meses, acolhidos na fazenda do Sr. José Alves Ferreira e D. Benedita Alves de Souza, cerca de três quilômetros da cidade. Para quem saíra da zona rural, em Araguari, nos foi gratificante aquele tempo na Fazenda Monjolinho.
“Tu serás uma bênção”, disse o Deus Eterno a Abraão.
Meus pais, na humildade deles, foram ricamente abençoados no relacionamento com os irmãos, os interessados, e moradores da cidade. O trabalho cresceu em número e na qualidade da vida cristã, e muitos simpatizantes acabaram por se decidirem pelo Evangelho. O Salão de cultos precisou ser aumentado mais que o dobro. O ofício antigo, de carpinteiro, foi de grande valia, porque meu pai arregaçou as mangas, pegou no serrote e no martelo, e o madeiramento ficou pronto e muito bem feito, o tempo não tirara o extra de Marcílio, o carpinteiro. O crescimento do trabalho incrementou-se de tal maneira que os irmãos, inclusive meu pai, se arrependeram de não terem feito um aumento maior. “A Igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número.” (Atos 9:31). “A Igreja tinha paz”. Alguns incidentes, que não vem ao caso aqui relatar, haviam abalado um tanto, a comunhão entre os irmãos. Todavia, a postura equilibrada, saudável e pacificadora, dos novos obreiros, lhes garantiu o respeito de uns e de outros. O antigo obreiro se envolvera com a política da terra, que naqueles dias, era violenta. Tempos da ditadura Vargas, e em Goiás a disputa pela preeminência política entre as forças políticas da época. A beligerância entre elas chegava às raias do absurdo. Perseguições, emboscadas e assassinatos. O prefeito oposicionista ao Governo da época, um bom e humanitário médico, Dr. Manuelito, foi vítima por duas vezes. Uma delas, durante nossa permanência na cidade. Meu pai foi procurado pelas lideranças, de um lado e do outro, a fim de que ele aceitasse a Prefeitura, pois segundo eles, meu pai tinha todas as qualidades necessárias e indispensáveis, para promover a paz e a concórdia entre as lideranças políticas. “Bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.
A Missão Oeste do Brasil, que liderava a obra evangélica dos presbiterianos, no Brasil Central, e coordenadora do Instituto Bíblico de Patrocínio, anualmente, realizava em Patrocínio uma convenção, visando adequar as lideranças leigas, da região eclesiástica, às necessidades dos trabalhos eclesiais, como um todo, especialmente com o desenvolvimento pela Escola Dominical.
O que tem essa programática da Missão, com o esboço de minha vida?
Meus pais convidaram o irmão José Alves Pereira e a seu filho João Alves de Souza, a irem com eles para Patrocínio para participarem da Convenção, mas antes, a passarem em Araguari para visitarem os velhos Zéca Coelho e Isolina Goulart.
Já mencionei que vivíamos no tempo da ditadura Vargas, tempo de abusos inomináveis por parte das autoridades policiais. Os delegados, militares, muitos deles não passavam de “jagunços” (pistoleiros), uniformizados a serviço dos “chefetes políticos”, que por qualquer motivo, os mais comuns e não planejados, prendiam, submetiam a humilhações e espoliações. O carvoeiro do meu avô, entregando lenha na cidade, por infelicidade esbarrou no carro do prefeito, sem, contudo, causar-lhe nenhum arranhão. O carvoeiro, apelidado Neném, verificando não ter danificado o carro, e sem saber que era o carro do prefeito, (o médico que atendeu minha mãe e me trouxe a luz), retornou a fazenda. Mas, ali não chegou porque alguém havia comunicado à polícia que o alcançou antes de sair da cidade. Prenderam-no e abandonarão o carroção e os bois a deriva. Até que um morador daquele local, amigo do meu avô, conduziu o carroção até a fazenda. Alguns minutos após tudo isso ter acontecido, o delegado, Tenente Leôncio, acompanhado de dois soldados, chegaram e foram invadindo a residência. Teve aí, o início a sessão dos horrores. Meu avô teve que se vestir convenientemente, enquanto isso, brutalmente procuravam por dinheiro e jóias, rasgaram colchões, seqüestraram uma espingarda de pequeno calibre, e levaram meu avô e o trancafiaram na cadeia, depois de o acariciarem com sopapos e borrachadas. E ele, coitado, sem saber de nada. Enquanto isso o genro que deixara os irmãos de Pouso Alto na fazenda do avô, estava na cidade e ignorava o que estava acontecendo.
Na fazenda, um quadro de desolação, minha avó e mãe entraram numa crise nervosa profunda. Nossos irmãos visitantes estavam profundamente chocados e constrangidos com tudo aquilo. Felizmente, meu pai chegou da cidade, ele estava a cavalo. Tomando conhecimento das coisas, incontinente, a galope, retornou a cidade, indo diretamente ao Prefeito, que não autorizara aquela incursão e nem tomara conhecimento do ocorrido com o seu carro. De imediato, escreveu uma ordem de soltura para que meu avô fosse imediatamente liberado. Vovô foi solto, mas a velha espingarda não foi devolvida, nem queriam devolver o seu relógio de bolso, os seus óculos de aros de ouro, e vinte e cinco mil réis achados no bolso do meu avô. Os objetos acabaram sendo devolvido, graças à intervenção de meu tio Weiller Galante (o Nhônhô), irmão de minha mãe Camélia, e amigo do prefeito. Menos os vinte e cinco réis, valorizados naquele tempo.
A partir desses fatos dolorosos, meu avô, mineiro a antiga, só pensava em vender a fazenda e acompanhar o genro e a filha, mudando-se para Pouso Alto. Meu pai e os irmãos do Pouso Alto seguiram para Patrocínio e participaram da Convenção. (Participavam do evento muitos conferencistas de fora, missionários e pastores nacionais, líderes e educadores). Enquanto isso, minha mãe, avó e uma irmã de criação de minha mãe, a dedicada Tia Galdina, preparavam as coisas que seriam levadas na mudança. Muita coisa ficou para trás. Vovô encontrara logo um comprador que ofereceu um preço abaixo do mercado, mas o velho Zéca não queria permanecer por mais tempo em Araguari, depois de tudo o que sofrera.
Um comentário:
PUXA... q coisa ... nao sabia que aconteciam estas coisas...q tristeza , hein?
q trauma !!! Graças a DEUS , preservou a vida !!! graça e paz ,leh
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